Plano de Continuidade de Negócios para Gestão de Crise Financeira e Endividamento
Plano de Continuidade de Negócios para Gestão de Crise Financeira e Endividamento
Versão | Data | Autor | Alterações realizadas | Aprovado por | Data aprovação |
1.0 | 30/06/2025 | Vanderson Andrade | Criação | Direção Geral | 30/06/2025 |
1. Introdução e Propósito
Este documento estabelece a política e os procedimentos para a gestão proativa de crises financeiras e de endividamento. O objetivo é garantir a continuidade dos negócios, proteger os ativos da empresa, preservar o valor para os acionistas e manter a confiança de credores, fornecedores, clientes e colaboradores.
Dada a complexidade do ambiente econômico brasileiro e a natureza das obrigações com instituições financeiras, incluindo bancos comerciais e de fomento (como o BNDES), este plano fornece um roteiro claro para a tomada de decisão em momentos de estresse financeiro agudo.
2. Objetivos
-
Identificação Precoce: Detectar sinais de alerta e gatilhos de uma potencial crise financeira antes que ela se torne insustentável.
-
Estrutura de Resposta: Estabelecer um Comitê de Gestão de Crise Financeira (CGCF) com papéis e responsabilidades claros para uma resposta rápida e organizada.
-
Preservação de Caixa: Implementar medidas rigorosas de controle de caixa para garantir a liquidez necessária à manutenção das operações essenciais.
-
Estratégia de Negociação: Desenvolver e executar um plano coeso para renegociar dívidas e obrigações com todos os credores, incluindo BNDES, bancos privados, FIDCs, e detentores de CRI/CRA.
-
Comunicação Controlada: Gerenciar a comunicação com todas as partes interessadas de forma transparente, estratégica e centralizada.
-
Continuidade Operacional: Assegurar que as operações críticas do negócio sejam mantidas com o mínimo de interrupção possível durante a crise.
3. Definições
-
Crise Financeira: Situação em que a empresa enfrenta uma severa escassez de liquidez, incapacidade iminente de cumprir suas obrigações financeiras (dívidas, folha de pagamento, fornecedores), quebra de covenants (cláusulas contratuais) ou uma deterioração rápida de seus indicadores financeiros.
-
Gatilho de Ativação: Um evento específico que aciona formalmente este plano. Exemplos incluem:
-
Projeção de fluxo de caixa negativo para os próximos 30/60 dias.
-
Incapacidade de pagar uma parcela de dívida relevante.
-
Notificação de quebra de covenant por um credor.
-
Rebaixamento significativo da nota de crédito.
-
Queda abrupta e sustentada da receita acima de um percentual pré-definido.
-
4. Escopo
Este plano aplica-se a todas as operações financeiras e administrativas da empresa. Ele deve ser conhecido e seguido por toda a liderança executiva e gestores de departamento.
5. Comitê de Gestão de Crise Financeira (CGCF) – Cargos e Funções
A resposta à crise será liderada pelo CGCF, composto pelos seguintes membros:
-
Função: Coordenador da Crise (Líder do CGCF)
-
Cargo: Diretor Presidente (CEO) ou Diretor Financeiro (CFO).
-
Responsabilidades:
-
Liderar o comitê e orquestrar a resposta geral à crise.
-
Tomar decisões estratégicas finais, especialmente as que envolvem a continuidade do negócio.
-
Ser o principal porta-voz junto ao Conselho de Administração e investidores-chave.
-
Declarar formalmente o início e o fim do estado de crise.
-
-
-
Função: Líder Financeiro e de Tesouraria
-
Cargo: Diretor Financeiro (CFO) ou Gerente de Tesouraria.
-
Responsabilidades:
-
Monitorar o fluxo de caixa diariamente e criar projeções de cenários (otimista, realista, pessimista).
-
Centralizar e aprovar todos os pagamentos.
-
Analisar todos os contratos de dívida, identificando covenants, garantias e cláusulas de aceleração.
-
Liderar a preparação de materiais e a estratégia para a renegociação com credores.
-
-
-
Função: Líder Jurídico e de Conformidade
-
Cargo: Diretor Jurídico ou Consultor Jurídico Principal.
-
Responsabilidades:
-
Analisar todas as implicações legais e contratuais da crise e das ações propostas.
-
Conduzir ou supervisionar as negociações contratuais com credores.
-
Avaliar e, se necessário, preparar a empresa para cenários mais complexos como recuperação extrajudicial ou judicial.
-
Garantir a conformidade com as regulações do mercado (CVM, etc.).
-
-
-
Função: Líder de Operações e Suprimentos
-
Cargo: Diretor de Operações (COO).
-
Responsabilidades:
-
Identificar e implementar oportunidades de redução de custos operacionais sem paralisar a receita.
-
Negociar com fornecedores estratégicos para estender prazos de pagamento ou garantir o fornecimento.
-
Otimizar estoques e processos produtivos para liberar caixa.
-
-
-
Função: Líder de Relações com Investidores e Comunicação
-
Cargo: Diretor de Relações com Investidores (RI) ou de Comunicação.
-
Responsabilidades:
-
Desenvolver a narrativa e os comunicados para o mercado, imprensa e colaboradores.
-
Manter uma linha de comunicação transparente e alinhada com os credores e investidores.
-
Gerenciar a reputação da empresa durante a crise.
-
-
-
Função: Líder de Recursos Humanos
-
Cargo: Diretor de Recursos Humanos (RH).
-
Responsabilidades:
-
Gerenciar a comunicação interna para manter o moral e o engajamento.
-
Planejar e executar medidas relacionadas à força de trabalho (congelamento de contratações, férias coletivas, reestruturações), minimizando o impacto humano e legal.
-
-
6. Procedimento de Gestão da Crise Financeira – Fases
-
Fase 1: Detecção e Alerta
O departamento Financeiro monitora continuamente os indicadores de saúde financeira. Ao identificar um Gatilho de Ativação, o CFO alerta imediatamente o CEO. -
Fase 2: Ativação e Avaliação Inicial
O Coordenador da Crise convoca a primeira reunião do CGCF em até 24 horas. O objetivo é avaliar a magnitude da crise, a posição de caixa imediata e as obrigações mais urgentes. -
Fase 3: Análise e Desenvolvimento da Estratégia
O CGCF trabalha para:-
Construir o Plano de 13 Semanas (Cash Flow): Uma projeção detalhada de todas as entradas e saídas de caixa para as próximas 13 semanas.
-
Mapear Dívidas e Credores: Criar um dossiê para cada credor (BNDES, Itaú, Bradesco, etc.), detalhando o saldo devedor, garantias, covenants e o histórico de relacionamento.
-
Definir o Plano de Ação: Priorizar medidas de corte de custos, desinvestimento de ativos não essenciais, aceleração de recebíveis e, crucialmente, a estratégia de renegociação para cada credor.
-
-
Fase 4: Execução do Plano de Ação
-
Comunicação Estratégica: O Líder de Comunicação executa o plano, começando pela comunicação interna.
-
Gestão Centralizada de Caixa: O Líder Financeiro assume controle rigoroso de todas as saídas de caixa.
-
Renegociação com Credores:
-
Abordagem Proativa: O CGCF, liderado pelo Coordenador e pelo Líder Financeiro/Jurídico, contata os principais credores antes do default (inadimplência).
-
Apresentação do Plano: Apresenta-se um plano de recuperação crível, demonstrando controle da situação.
-
Pleitos: Busca-se obter waivers (perdão temporário de covenants), carência de principal/juros (standstill), ou uma reestruturação completa dos termos da dívida.
-
BNDES e Bancos de Fomento: A negociação com essas instituições exige uma abordagem específica, focada no impacto social do negócio (empregos, desenvolvimento regional) e com documentação robusta, seguindo seus ritos processuais.
-
-
Otimização Operacional: O Líder de Operações implementa os cortes e otimizações definidos.
-
-
Fase 5: Monitoramento e Ajuste
O CGCF se reúne com alta frequência (diária ou semanal) para monitorar os KPIs (posição de caixa, progresso das negociações) e ajustar a estratégia conforme necessário. -
Fase 6: Desmobilização e Análise Pós-Crise
A crise é considerada encerrada quando a empresa atinge metas pré-definidas (ex: fluxo de caixa positivo por 3 meses consecutivos, acordos de renegociação assinados). O CGCF conduz uma análise pós-crise para documentar as lições aprendidas e fortalecer os controles internos.
7. Revisão e Simulação do Plano
Este plano deve ser revisado anualmente. O CGCF deve conduzir, no mínimo, uma simulação de crise (exercício de mesa) por ano para garantir que todos os membros conheçam seus papéis e que o plano permaneça relevante.